sábado, 11 de abril de 2009

Homo Sapiens Transistorz.

Olá amigos Segue aqui mais uma louca história que nunca deveria ter saído de minha cabeça.



Diário de Alexandre Álvares 22.03.2048

“Hoje quando voltava do trabalho testemunhei a coisa mais estranha que já havia visto em minha vida. E tenho certeza de que todos que estavam ao meu redor tambem o acharam. Como de costume saí do escritório as 17h05min, mesmo sendo tão tarde o sol ainda não havia se escondido totalmente. Havia deixado o carro no estacionamento que ficava na rua abaixo ao edifício em que trabalho, não por que fosse mais barato ou coisa parecida. Mas por que assim eu poderia tomar toda tarde aquele pouco de sol e respirar algo que não fosse proveniente de um ar condicionado. Foi quando aguardava junto com outros transeuntes o semáforo nos liberar caminho, que aconteceu o tal evento. O sinal havia ficado amarelo para os veículos e a maioria dos motoristas tiravam o pé do acelerador, um daqueles automotivos japoneses cinzas vinha vagarosamente quando algo caiu do céu e chocou-se contra o seu pára-brisa. A coisa fez um baque surdo porem alto, e estilhaçou todo o vidro. O motorista freou o carro no mesmo instante e saltou para fora. Não demorou para que as pessoas se juntassem a ele no intuito de ver o que havia caído, de início não tive interesse algum em saber de que se tratava. Mas ao ouvir o som de surpresa dos que se aproximavam, resolvi dar uma espiada. Devo admitir que não reconheci o “objeto” quando pus os olhos nele, a coisa pareceu-me um tijolo com penas devido ao seu formato. Mas após ter apurado a visão percebi que era um pombo, é claro que aquilo não podia ser um pombo comum. Era imenso e com toda certeza pesado, pois havia quebrado o pára-brisa do veículo. Mas a coisa mais estranha no “animal” eram os fios que saltavam de suas órbitas e bico. Um enorme emaranhado cor de cobre fora vomitado pelo bicho, e expelido para fora de seus olhos. A língua pendia para fora do bico e pingava algo preto. Aquilo parecia um robô que havia explodido de dentro para fora, mas era um pombo. Embora me recuso a acreditar que seja um, mas que explicação poderia ter aquilo? Um brinquedo com toda certeza não era, algo tão pesado podia machucar uma criança. E tambem não acredito que fosse uma câmera secreta da CIA, KGB ou qualquer outra sigla. A menos que essas entidades estejam construindo ciborgues e tiveram a brilhante idéia de começar justamente pelos animais. Lembro-me que as pessoas se entreolhavam, e discutiam sobre o que diabo era aquilo. Eu realmente não sei, mas sei que robôs não tentam respirar. E sei tambem que brinquedos não defecam, pois o nosso amigo emplumado fazia os dois.”

Diário de Alexandre Álvares 25.03.2048

“Se o evento do pombo foi estranho, hoje nos jornais li algo que me pareceu mais estranho ainda. Não me lembro exatamente o nome da cidade em que ocorreu o fato, e isso tambem não importa. O importante é que se eu houvesse lido ao maldito jornal antes de ter conhecido o tijolo com penas, eu jamais iria acreditar na matéria. Uma dona de casa havia encontrado seu gato morto atrás da porta da garagem de onde morava, sei que não parece grande coisa. E não seria se a porra do gato não tivesse vomitado óleo, e se em seu interior não fossem encontrados fios de cobre revestidos de plástico que ligavam o cérebro ao coração e outros órgãos. Segundo a noticia nenhum vestígio de sangue foi encontrado dentro do animal, o veterinário responsável pelos estudos chegou a afirmar que o sangue do bichano havia sido trocado por óleo, ou se “transformado” nele. Realmente fiquei assustado quando li a parte do sangue sendo transformado em óleo, como algo assim poderia acontecer?
Se o caso do gato parasse nesse exato momento, ficaria mais tranqüilo. Mas o gato havia mais para mostrar. Uma de suas patas traseiras, à esquerda se não me falha a memória... Bom não interessa qual das patas. Dessa vez foi o cálcio que se transformou em cromo, os ligamentos haviam virado pistões. “Isso foi o que mais me espantou, era uma prótese perfeita de aço, ou qualquer metal. Ainda estava ligada ao osso no momento em que examinei o animal, e não foi apenas isso. Mesmo após a morte, o “cromo” ainda nos ossos penetrava nos ossos do animal. O aço subia para os ossos, com uma cor de ferrugem que aos poucos se transformava em prateado...” Eu parei de ler nesse exato momento, meu coração já parecia subir pela garganta então me certifiquei de que ele não faria isso fechando o jornal.”

Diário de Alexandre Álvares 26.03.2048

“Minha cabeça virou uma bagunça total hoje, já havia ficado realmente assustado com os dois casos que havia se passado. Mas nada no mundo me prepararia para o que aconteceu hoje, estava em meu escritório terminando mais um dos relatórios infernais que estavam sobre minha mesa. Quando ouvi um som estranho, e algo passou por detrás de minha cabeça em alta velocidade. Tentei seguir o som, mas só conseguia ver um reflexo prateado cortando o ar a minha frente. O som lembrava o de uma sacola dançando ao vento, mas com uma grande intensidade. O reflexo prateado ficou parado no ar contra a luz, e começou a descer lentamente em minha direção até pousar em meu braço. Fiquei maravilhado ao ver que era um inseto, não sei dizer que inseto ele era anteriormente. Mas acredito que fosse uma libélula, devido aos seus movimentos rápidos. O bicho era todo de metal reluzente, seus olhos viraram duas lanternas vermelhas que giravam nas órbitas e pareciam observar milimetricamente todos os lados. As pontas de suas patas lembraram-me alfinetes, mas o que realmente me deixou estarrecido e maravilhado foram suas asas. Elas eram um trançado de fios dourados, recobertos por vidro. Quatro pares de asas que reluziam contra a luz, três pares de pernas que caminhavam sobre a manga de meu paletó. Nas laterais do corpo de meu novo amiguinho pude ver duas longas linhas que pulsavam bombeavam um líquido negro, o bicho caminhou até a as costas de minha mão e ficou parado ali. Seus olhos se voltaram para a minha pele, pude sentir o local onde os fachos de luz vermelha fitaram esquentar, levantei a mão até a altura do rosto para observar a coisinha. Uma longa estrutura espiralada como um saca rolhas saiu do abdômen da libélula, e desceu com força nas costas da minha mão. A dor foi extremamente profunda, e instintivamente levei a outra mão ao lugar e espalmei o bicho. Ela não devia ter mais que quinze centímetros, pois a palma de minha mão a cobriu inteira. O inseto estava em uma poça do liquido negro, Uma de suas patas se contorcia em espasmos frenéticos. Faíscas azuis saltavam de seu corpo, e arrepiaram os pêlos de meu braço. Fiquei desanimado ao ver o que tinha feito, não dei um funeral digno para a libélula. Apenas a joguei no cesto de lixo abarrotado de papéis e fui ao banheiro lavar a mão suja do líquido negro. Fiquei com o inseto e todos os outros bichos em minha cabeça o dia inteiro, eles tomaram conta de meu pensamento e não me deixaram em paz. Continuo não sabendo o que está acontecendo, e duvido que alguém saiba. Mas essa coisa já obteve sucesso ao dominar os insetos, pelo menos no caso da libélula a metamorfose havia sido perfeita chegando além disso. Pois a libélula ganhou um par extra de asas e o ferrão em forma de saca rolhas , sem contar tambem aqueles olhos vermelhos. A pergunta que me faço é: Até que onde essa “evolução” alcançará? Em qual grau da cadeia alimentar ela irá parar?”

Diário de Alexandre Álvares 02.04.2048

“Vários animais e insetos foram encontrados robotizados, até o momento nenhuma pessoa apresentou alguma alteração em seu organismo. Teria a evolução parado? Sei que esse diário era usado para descrever coisas do meu dia-a-dia, mas agora ele será uma espécie de reportagem sobre esse evento que por enquanto não se mostrou mais presente. E espero de coração que esse diário volte a ser o que era...”

Diário de Alexandre Álvares 06.04.2048

“Li uma matéria no jornal hoje que me chamou muito a atenção, mesmo com tantas evidências desse estranho fenômeno muitas pessoas se recusam a acreditar nele. Vários são os relatos de que isso não passa de um teste do governo para verificar qual o comportamento da população em meio a um fato inexplicável. O número de animais “evoluídos” diminuiu razoavelmente. Não acredito que a “evolução” tenha parado e sim que ela está se adaptando. Se tornando mais lenta para não afetar os indivíduos os quais ela “domina”.”

Diário de Alexandre Álvares 13.04.2048

“As minhas suspeitas começaram a ficar conclusivas, pelo menos em parte. A evolução não parou e tenho a prova disso em algum lugar de meu organismo. Se desenvolvendo e crescendo a cada segundo que se passa. Hoje no horário de meu almoço fui que pude comprovar isso. Como em toda semana de pagamento levo algumas contas para o escritório e as pago nesse horário. Foi quando cheguei à porta giratória que fui pego de surpresa pela “evolução”. Como de costume tirei as chaves, moedas e celular dos bolsos. Os depositei naquela caixinha que fica ao lado da porta, e quando tentei atravessá-la fiquei preso. Um dos seguranças se aproximou, dizendo que deveria retirar todos os objetos de metal dos bolsos. Não havia mais nada em meus bolsos que fosse de metal, voltei alguns passos atrás e tentei entrar novamente. A porta mais uma vez me negou acesso ao banco, senti uma ponta de raiva crescer dentro de mim, seguida de medo. Retirei meus pertences da caixinha e dei a vez para o próximo tentar entrar. O homem que estava atrás de mim retirou seus pertences dos bolsos e os depositou no mesmo lugar que eu havia deixado os meus. Observei-o tentando entrar no banco, a porta travando novamente. Não precisei ficar para ver que muitos outros não conseguiriam entrar naquele local, algo em nossos organismos estava ativando o detector de metais daquela porta.”

Diário de Alexandre Álvares 15.04.2048

“Descobri hoje uma transformação em meu corpo. E devo dizer que estou realmente abalado, um dos ossos de meu cotovelo se transformou em aço. Posso sentir seu formato “mutante” sobre minha pele. E sentir tambem o frio proveniente dele, é como ter um cubo de gelo sobre a pele. E essa sensação de gelado está tomando conta de meu braço, vagarosamente, mas é possível sentir ele pulsando sob a minha pele. Cada osso formiga freneticamente, em minha imaginação consigo vê-los se transformando no cromo prateado, ficando primeiro laranja enferrujado e depois prata. O cálcio sendo transformado em chumbo, ou qualquer outro metal ou aço. Outra coisa que já perceptível é o meu sangue, minhas veias agora estão saltadas. Como se o líquido que sempre as preencheu tivesse aumentado de tamanho, se expandido, ficado mais grosso... E talvez negro. Abalado não é bem a palavra que devo usar, estou amedrontado, em pânico. Será mesmo esse o nosso futuro? Evoluirmos até nos transformamos em máquinas, sem sentimento, sem alma? O orgânico sendo substituído pelo industrial? A “mágica” da vida sendo transformada em tecnologia? Depois de tantos acontecimentos e fatos, me parece impossível pensar ao contrário... Em breve mudaremos nosso jeito de ser, nosso modo de viver? Seremos humanos dentro de uma carcaça de metal? Ou nossa mente prevalecerá e não seremos transformados “totalmente” em máquinas? Isso pode ser um novo começo, ou o fim de tudo... Como criaremos um novo ser? Não seremos mais pais e mães? Os livros de ciência terão que ser atualizados, pois o Homo Sapiens se transformará em Homo Transistorz, seremos o topo da cadeia alimentar, pois não nos alimentaremos mais de nada... Eu viverei para responder todas essas perguntas, disso tenho certeza. Mas antes que as respostas se concretizem voltarei a tomar a aqueles banhos de sol, sentir a água do mar em minha pele. E todas aquelas sensações que só nos “humanos” podemos sentir, antes que minha carne caia de meu corpo, que meus ossos virem cromo e meu sangue se transforme em óleo. Antes que meu ser vire uma carcaça de aço...”

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Música: Silent Hill.


Olá queridos amigos, não é surpressa para ninguem que uma das melhores séries de jogos de terror é a já citada Silent Hill. Um game envolvente e de história mágica, que te deixa presso em frente a tela da T.V. Pois bem no dia 31/01/2009 o game completou dez anos de terror, medo e principalmente sangue e ferrugem. Dois elementos presentes em todos os jogos da franquia, é uma experiência totalmente apavorante ver o mundo de Silent Hill ficar com as paredes, o chão e todos os malditos lugares cobertos de sangue e ferrugem

Como um grande usuário do Orkut e fãn da série eu com certeza estaria em uma das maiores comunidades feitas para o jogo. Eis que aparece um rapaz com uma idéia brilhante, a de que deveriamos escrever a letra de uma música pois o mesmo é músico criaria uma melodia em cima da letra.

Como escritor e músico amador fiquei tentado com a proposta e fiz a minha letra envolvendo elementos dos jogos da série. Espero que gostem da letra e para quem não conhece a série de jogos fica aqui a dica.

Sangue e ferrugem.
By: Jocson de Souza

Você é um guerreiro errante.
Dentro de seus pesadelos e medos profundos.
Você encontra a cada esquina um motivo para voltar atrás.
Mas continua sua busca por verdade não será encerrada.

Você anda por ruas sem vidas, e becos sujos.
As trevas consomem o que o fogo deixou para trás.
A brancura dos erros passados rasga seu rosto.
Sua alma se culpa pelas lembranças esquecidas.

Buscando a salvação na obscuridade.
Gritando de pânico, mas nunca desiste.
Você é o errante em meio ao sangue e ferrugem.

Você é uma criança inocente.
O destino te dividiu entre o bem e o mal.
Você busca vingança, você busca amor.
Você é forte, palavras não machucam mais.

As trevas voltam mais uma vez.
Você tenta sair e chamar por socorro.
Mas não será melhor ficar aqui?
As amarras que te prendem são imaginárias,
só você não vê isso.

Buscando a salvação na obscuridade.
Gritando de pânico, mas nunca desiste.
Você é o errante em meio ao sangue e ferrugem.

Você quer pedir perdão.
Mas já é tarde para voltar atrás,
a vida deixou as marcas em seu corpo.
E você só quer perdão.

Sua sanidade encontra barreiras.
Os medos encontram as verdades,
as vontades ganham vida.
Pois você é o bem, é o mal,
é o ódio, é o medo,
é o certo e o errado.
O anjo e o demônio.

Buscando a salvação na obscuridade.
Gritando de pânico, mas nunca desiste.
Você é o errante em meio ao sangue e ferrugem.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Adrenalina.


Desde quando o mundo estava daquele jeito? Droga, ele praticamente não se lembra como chegou até o fim do poço em que se encontra. Ou seria melhor dizer esgoto? Se bem que não tem diferença de uma pra outra. Só sabia que desde o tal “incidente radioativo” o mundo que viveu um dia mudou drasticamente. Um tempo tão pequeno fez tudo isso. Agora que o seu sangue resfriara Jonas se lembrava de tudo, parece que a adrenalina liberada na corrente sanguínea é como a porra de um corretivo, que cobre todas as lembranças. Desde as antigas, até mesmo as mais recentes. E somente Deus além de Jonas saberia como ele não se importava de esquecer essas lembranças recentes. E cheias de terror.
A coisa começara naquela terça-feira banal. O despertador marcando sete da manhã apitava o seu alarme estridente. Jonas bateu no botão do alarme com o dedo indicador, usando uma força que com toda certeza iria trazer em menos de duas semanas, o que descobriu mais tarde que não haveria essas tais semanas, um novo despertador. Levantou-se sentindo um gosto amargo na boca, abaixou-se para pegar os chinelos que usava dentro de casa, essa era uma coisa que havia aprendido com a sua mãe, um chinelo para se usar na rua. Outro para se usar dentro de casa. E nunca esquecera isso. Agora que não tinha mais os pés descalços, foi para o banheiro, antes de entrar no chuveiro tirou a cueca e urinou. Com muita força é verdade, isso era uma coisa que gostava de fazer quando estava com a bexiga cheia de urina. Abriu o chuveiro e entrou debaixo da água quente, o banho foi rápido, mesmo assim Jonas fazia questão de tomar um bom banho. Enquanto fazia a barba observava admirado o rosto que um mês antes havia completado vinte e cinco anos. Não era mais aquele garoto de dez anos atrás que usava o bigodinho ainda em crescimento. O qual muitos diziam ser sujeira. Ele se lembra e sorri disso. Limpa o rosto com uma concha cheia de água formada pelas mãos. Veste uma camisa social branca, e uma calça preta. Detestava ter que usar roupas sociais. Para ele não passavam de um uniforme disfarçado, e ele não usava um desde o colegial. Enquanto esquentava o café, serviu-se de um pão de forma com manteiga e ligou a T.V. Não estava prestando a menor atenção no jornal, sua cabeça estava em Sabrina. A loirinha de olhos azuis do escritório, e o modo que ela andava. Pensava tambem na calcinha preta, que muitas vezes era possível ver através da calça que ela usava. Ela tinha um rosto lindo, o corpo duas vezes melhor que o rosto. Ou seriam três vezes? Quando tomaria a coragem necessária para chamá-la para sair? Ele a desejava com muita força, se imaginava acariciando aquelas pernas, sentindo o perfume direto do pescoço dela. Algo que a deixaria arrepiada, e quem sabe excitada? Só de pensar ele já estava excitado. Tomou o café rápido, saiu do quarto deixando a T.V ligada. No tele-jornal a ancora dizia que o “incidente radioativo” do projeto Gênese estava sob controle e que ninguém havia de fato se ferido durante o contratempo que tiveram. Jonas esperava calmamente o elevador no corredor em frente ao seu quarto. Quando o mesmo chegou Jonas entrou e apertou o botão que dava para o térreo. Saiu do condomínio onde morava e andando duas ruas na direção “pobre” daquele bairro chegou ao ponto de ônibus onde toda manhã pegava um disputado Terminal Bandeira. E claro, descia do ônibus dentro do próprio terminal. Mais uma vez o ônibus chegou no horário em que ele sempre o pegava, embora dessa vez houvesse um lugar para ele ir sentado. O ônibus não tardou a chegar em seu destino, todos desciam rapidamente, afinal de contas trabalhar no centro da cidade de São Paulo era uma tarefa árdua e cansativa. Isso ele tinha de admitir. Mais ele não precisava correr, não quando se trabalhava na Barão de Itapetininga. Com certeza a rua mais próxima do terminal de ônibus. Saiu do terminal e subiu pelas escadas que davam acesso a rua onde trabalhava. Dez anos atrás seu sonho era trabalhar em um daqueles prédios altos onde agora trabalhava, e que agora não lhe parecia tão mágico assim. Exceto por Sabrina. Naquela época as coisas eram totalmente diferentes, dez anos atrás a cidade era um verdadeiro lixo na opinião de muitos, mas com o passar desses dez anos parecia que todas as promessas feitas pelos políticos foram concretizadas. As ruas mudaram de um modo impactante, eram agora limpas, e até mesmo seguras na maioria dos bairros. Mais uma das coisas mais notáveis era o sistema de esgoto, agora não mais um monte de encanamentos de concreto velho, e sim grandes galerias sob a cidade, grandes espaços por onde um caminhão poderia passar sem arranhar as paredes. Entrou no prédio onde trabalhava, e tomou o elevador, descendo no vigésimo andar. Assim que entrou no setor onde trabalhava viu a loirinha que tirava seu sono de vez em quando. Cumprimentou Sabrina com um largo sorriso no rosto, o qual foi correspondido do mesmo modo.
Aquele dia custou a passar, o trabalho de analista de sistemas ficava a cada dia mais estressante para ele. Mais finalmente havia acabado, e já eram 17h55min da tarde. Mesmo sendo uma terça feira, ele queria beber uma gelada. Saiu de sua mesa assim que o computador havia sido desligado. Foi quando chegou ao corredor do elevador que ele viu Sabrina novamente. Ela segurava uma pasta de couro marrom nos braços, e quando viu Jonas se aproximar abriu novamente um grande sorriso. Jonas sentiu o um leve ardor no rosto quando ficou ao lado dela dentro do elevador, somente os dois naquele lugar pequeno e fechado. Ele com toda certeza não se importaria se o elevador parasse entre um andar e outro, pois assim poderia ficar mais tempo com ela. Mesmo isso parecendo uma idiotice tremenda. Pelo canto do olho ele viu o modo acanhado como ela o observava. Sem um mínimo de disfarce possível. Mais não por que ela queria dar “na cara” que o observava, mas por descuido. Ele tambem sentiu-se atraído pelo olhar dela, e começou a fazer o mesmo movimento rápido que ela fazia. Quando finalmente os olhares se cruzaram e os dois sorriram timidamente, e como se combinado. Falaram ao mesmo tempo:
_Quer fazer algo?
Os dois tomaram um susto diante de tamanha coincidência e dessa vez gargalharam de verdade. Jonas quebrou o as gargalhadas com uma pergunta:
_E então? Que fazer algo?
_Por que não? Acho que depois de um dia de trabalho preciso tomar algo gelado. De preferência uma cerveja.
_Você realmente tirou as palavras da minha boca garota.
Os dois saíram do prédio e foram para um movimentado bar que ficava uma rua acima do edifício onde trabalhavam. Mesmo para uma terça feira o local estava cheio. Sentaram-se em uma mesa e logo um dos muitos garçons do local trouxe dois copos de chopp, os dois conversaram por muito tempo. Sobre coisas variadas, gostos pessoas, desejos futuros. Foi quando um rosto conhecido apareceu na frente da mesa deles. Era Thiago, um dos melhores amigos de infância de Jonas. Ele sabia que Thiago estava trabalhando pelas redondezas, e quando viu o amigo em frente a sua mesa, sentiu o passado voltar à tona em sua mente. Levantou-se da mesa e abraçou o amigo com afeto, em seguida apresentou o mesmo para Sabrina. Os três conversaram bastante, Thiago contando as confusões que os dois se metiam quando eram mais jovens. Ou quando eram moleques. Essas histórias provocaram risos gerais nos três. Porem os risos duraram pouco quando alguém de súbito aumentou o som da T.V que passara despercebida pelos três.
_Foi confirmado agora que o “incidente radioativo”, como ficou conhecido por muitos essa manhã, teve proporções que não foram comunicadas no momento em que ocorreram. Segundo fontes internas do próprio instituto Gênese, uma das funcionárias do laboratório de pesquisas genéticas foi infectada com uma espécie de radiação, essa radiação esta ligada com um dos experimentos que era feito no instituto.
Os três entreolharam-se, com um tom de medo nos rostos. O instituto ficava a menos de duas quadras do local onde estavam. Era possível ver o edifício do lado de fora do bar onde estavam agora.
_Segundo essa mesma fonte essa radiação tem um enorme poder de mutação. E ainda não está sob controle total. Pelo que nós foi informado o grau de radiação expelida pelo experimento não chegou a um nível alarmante. E que ninguém infectado até o presente momento conseguiu deixar o prédio da instituição. Porem não é nenhuma certeza de que alguém que ainda não tinha apresentado algum sintoma deixou o instituto.
Todos que estavam no bar assistiam atentamente o que era pronunciado ao vivo pela ancora. Alguns mostravam certo tom de pavor na respiração, que soava pesada.
_Sei que o que vou dizer agora pode causar pânico em alguns cidadãos que trabalham e até mesmo moram nas redondezas do instituto. Porem uma “manobra” de segurança como foi declarado pelo nosso presidente já está em sendo colocada em vigor nesse exato momento. Todas as saídas com distância de até duas quadras do instituto estão bloqueadas pelo exercito, ninguém pode sair das regiões bloqueadas pelo exercito até que seja afirmado com toda a certeza que não há risco algum de infecção.
_Isso só pode ser brincadeira! – gritou um rapaz de camisa branca e boné preto de tela.
Todos no bar começaram a se levantar de suas mesas, falando muito alto.
_Gente – gritou um dos garçons – Vamos nos acalmar e fazer silêncio.
Muitos continuaram de pé assistindo o noticiário, todos calados com indignação nos seus rostos.
_Não se tem a menor idéia até o momento quando as pessoas que estão presas nas regiões poderão voltar para suas casas.
Mais uma vez o rapaz se levantou e gritou com a T.V.
_Mais que merda. Eu vou sair daqui agora.
Correu para a porta da frente e saiu rapidamente. Todos no bar ficaram em silêncio. Olhando nos rostos cheios de indignação e medo uns dos outros. Então como se movidos por uma força inimaginável todos que estavam no bar correram para fora. Jonas e seus amigos tambem saíram do bar. Thiago derrubando um dos bancos que estava no caminho. Uma jovem branca de cabelos negros, que usava uma saia preta e uma blusinha de lã branca caiu ao chão quando um rapaz branco e gordo de rosto rosado esbarrou nela. As pessoas do lado de fora corriam para direções diferentes, os postes brilhavam naquela noite escura fazendo as sombras crescerem duas vezes mais o tamanho original de seus donos. Sabrina, Jonas e Thiago desceram a rua em direção ao terminal Bandeira correndo em uma disputa com muitos outros, Jonas pode reparar que a grande maioria dos que corriam aos seus lados não estavam no bar junto com eles. A noticia já tinha se espalhado rápido. Chegaram à rua onde ficava o terminal e viram mesmo a distancia a grande multidão que estava parada a frente do mesmo. Uma barreira com divisórias de concreto cercava toda a entrada do terminal, por detrás dela soldados com uma estranha roupa preta colada ao corpo, algo parecido com couro, porem com uma cor metalizada e máscaras de gás. As máscaras faziam os soldados parecerem com estranhos insetos. Insetos assassinos. Sabrina tremeu ao pensar nisso, toda aquela multidão gritando fazia o seu temor aumentar mais ainda.
_Nos deixem passar – gritou um rapaz no meio da multidão. Os soldados não se moviam, continuavam com os rifles empunhados em frente ao corpo. Um homem vindo dos fundos usando a roupa excêntrica e uma boina verde pôs-se na frente dos demais soldados.
_Fiquem detrás das barreiras. É tudo que nós pedimos quanto mais vocês cooperarem, mais rápido estarão em casa. Do contrário...
A voz que saía de dentro da máscara era algo horrível de se ouvir, um chiado metálico e estridente. Jonas achou parecido com a voz de um demônio.
_Atrás da barreira é o caralho – gritou novamente o rapaz tentando pular por cima da barreira. O homem de boina verde fez um sinal rápido com a mão esquerda. Um sinal de cortar o pescoço. E dois soldados que estavam à frente do garoto com um movimento rápido dobraram o joelho esquerdo se apoiando nele e sacando os rifles. Cada soldado disparou uma vez, o primeiro acertando o rapaz na garganta, o segundo acertou o rapaz no meio do olho esquerdo. O lugar explodiu em uma chuva de sangue grosso, o projétil abriu a parte de trás da cabeça do rapaz fazendo um jato de sangue jorrar no rosto de várias pessoas que estavam atrás dele. Todos gritaram e correram Sabrina instintivamente pegou a mão de Jonas, os dois olharam-se engolindo em seco. E correram, os três correram para a rua acima e pararam perto de um dos poucos prédios antigos que ainda restavam.
_E agora? O que diabos nós vamos fazer?
_Eu não faço a menor idéia Thiago – Jonas estava ofegante, ainda não havia soltado a mão de Sabrina, e nem havia reparado nisso.
_Nós precisamos encontrar um lugar para poder pensar melhor nisso.
_Acho que você tem razão Sabrina, poderíamos voltar para o bar. Deve estar vazio lá. Nós podemos pensar com calma no que fazer – disse Jonas, havia reparado que ainda segurava a mão de Sabrina, resistiu um pouco e depois a soltou, as mãos estavam suadas.
Andaram de volta ao bar que estiveram minutos antes, ao contrário do que Jonas imaginara o bar não estava de todo vazio. Cinco pessoas estavam sentadas em uma mesa formando um círculo torto, quando os três entraram os demais olharam para trás espantados. Depois viraram a cabeça para um senhor branco e baixo que falava antes deles entrarem.
_Acho que nós devemos arrumar alguma forma de sair daqui. É claro que não podemos dar na cara que estamos fugindo. Tem de ser do jeito mais furtivo possível. Todos vocês ouviram os disparos, podem ter sido de aviso...
_Não foram de avisos – interrompeu Thiago – mataram um rapaz que tentou pular o bloqueio do exercito.
_Bom pelo jeito temos mais uma má noticia. Vocês foram até um dos bloqueios?
_Sim, tem um em frente ao terminal. Deram dois tiros e nenhum deles foi de aviso meu amigo. Foram tiros letais...
As pessoas se olharam assustadas, Sabrina observou o terror no rosto de cada um deles. Menos do senhor que falava, um homem que aparentava os seus cinqüenta anos, baixo, os cabelos tão grisalhos que tinham uma cor acinzentada. Usava um óculos de armação preta e grossa. Junto dele três rapazes e uma moça. O primeiro rapaz era um negro forte e alto, de cabeça raspada. Usava uma camisa preta de malha bem justa ao corpo. O outro um rapaz franzino de cabelos longos amarrados em um rabo de cavalo, usava uma camisa do Iron Maiden e óculos. O terceiro um rapaz um pouco gordo, branco que dava pra ver as veias saltadas no rosto rosado, tinha um cabelo arrepiado ao melhor estilo loiro oxigenado, usava um moletom de capuz na cor cinza. E por último havia a outra garota, era uma moça bonita, os cabelos eram vermelhos, usava uma blusinha vermelha de alças e saias jeans. Dos cinco era a que mais parecia estar amedrontada.
_O que vocês estavam conversando antes de chegarmos? – Questionou Jonas ao homem mais velho.
_Estávamos pensando em um modo de fugir. O que mais poderia ser meu jovem?
_E já tiveram alguma boa idéia?
_A realidade é que não tivemos nada. Nem um lampejo de idéia se é o que quer saber – respondeu o rapaz de cabelos longos.
_Pelo visto estamos no mesmo barco então? – Thiago tinha um tom desanimador na voz.
Os três sentaram junto aos demais deixando assim mais torto o círculo que haviam formado. Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas pensando no que poderia ser feito. Jonas olhava para o lado de fora, e via o bueiro no outro lado da rua. Levantou-se de súbito e foi em direção e porta do bar, ficou ali encarando o bueiro e se lembrando das reformas que haviam sido feitas nos esgotos da cidade. Poderiam passar caminhões e sem arranhar as paredes. Era isso que o prefeito daquela época prometera, e muitos diziam que ele tinha cumprido.
_Acho que tenho uma idéia. Mais isso vai parecer estranho.
_Diga logo filho.
_Eu acho que nós podemos passar pelos bloqueios. Por debaixo deles. Só que para isso teríamos ter de andar pelos esgotos.
Todos fizeram uma cara de espanto. Jonas achou que a idéia tinha sido descartada logo de imediato. Até que o rapaz de cabelos longos e óculos disse:
_Não é uma má idéia. Afinal esses esgotos são grandes pra caralho. E circulam por toda a cidade, dava pra sair numa boa a umas duas quadras de qualquer barreira e dar no pé.
_É verdade, porem não é perigoso? – questionou o rapaz negro de cabeça raspada.
_O perigo já está aqui ao nosso redor. E está nos esperando naquele bloqueio – rebateu o senhor de cabelos grisalhos.
_E nós vamos simplesmente entrar lá? A coisa é tão fácil assim? – Sabrina tinha um tom sério no rosto.
_É isso ou nada.
Todos ficaram pensando, e um a um sacudiram a cabeça numa afirmativa. Entrariam nos esgotos. Começaram a se levantar indo em direção a rua.
_Calma minha gente vocês vão sair assim?
O senhor de cabelos grisalhos deu a volta no balcão do bar e pegou uma lanterna, checou a lanterna e a mesma acendeu iluminando o seu rosto. Pegou tambem algo que tinha um brilho prateado fosco. Era um revolver calibre 38. Todos olharam espantados para a arma.
_Somente por precaução.
_O senhor é o dono desse bar?
_Sim, minhas mais sinceras desculpas. Em meio a tudo isso eu acabei não me apresentando. Meu nome é Antonio, sou dono desse bar a quinze longos anos. Mais que diabos, vou ser o único a se apresentar?
_Mais é claro que não. Eu sou Thiago.
_Márcio – respondeu o rapaz negro.
_Alessandra.
_Jefferson.
_Jonas.
_Sabrina.
Agora que todos já sabiam os nomes uns dos outros, saíram do bar em direção ao bueiro que estava do outro lado da calçada. Pararam em frente do bueiro, Márcio e Thiago se abaixaram e começaram a levantar a tampa com um pouco de esforço. Levantaram-na e a arrastaram para o lado esquerdo. Olharam pela beirada do buraco, era uma escuridão total lá dentro.
_Bom vamos logo.
Antonio foi o primeiro a descer, sentou-se na beira do buraco colocando o .38 na cintura da calça jeans e a lanterna na mão esquerda. E escorregou pela beirada do buraco sendo engolido pela escuridão. Foi ouvido um baque seco quando ele bateu no chão do esgoto. É uma altura considerável, ele disse aos demais. O segundo a descer foi Márcio. Jonas ajudou Sabrina e Alessandra a descerem pelo buraco, lá embaixo as duas foram pegas nos braços por Márcio. Jonas desceu logo em seguida, quando caiu no chão do esgoto sentiu as solas dos pés arderem como brasas, olhou ao redor e pode ver os demais. Olhou para o alto e viu a altura que a boca do bueiro estava. Quando Antonio havia dito que era uma altura considerável, ele não havia brincado. Na realidade era alto demais. Daria um bom trabalho na hora de sair. Melhor dizer um trabalhão. Viu Thiago descer pelo buraco e caindo quase de joelhos. Depois foi a vez de Jefferson, que caiu perdendo o equilíbrio quase batendo o rosto no chão.
_Caramba, isso é muito alto. Dava para quebrar uma perna se alguém caísse de mau jeito.
Márcio o ajudou a levantar, e eles seguiram caminho em direção ao terminal Bandeira, fazendo o caminho que fariam se estivessem lá em cima. O esgoto era grande como um túnel e estranhamente estava seco e sem nenhum odor. A lanterna fornecia um pequeno foco de luz, porem conseguia iluminar bem o lugar. Andaram cerca de dez minutos e chegaram a uma curva que ia pra esquerda, entraram na curva e andaram um pouco mais até outra curva. Essa agora virava para a direita. Jonas achou ter ouvido um ruído ao fundo, virou o rosto para trás fitando o escuro.
_Vamos? – Disse Sabrina colocando uma das mãos sobre o seu ombro.
Jonas sorriu para ela e voltou a andar. Andaram por mais dez minutos e dessa vez chegaram a uma encruzilhada. Não era bem uma encruzilhada afinal e contas. O caminho que virava para a esquerda possuía uma porta de aço enorme. Ao lado da porta havia uma espécie de leitor magnético.
_E agora? Para onde vamos? – Questionou Jefferson a Antonio que seguia na frente dos demais.
_Vamos continuar em frente, ninguém além de mim achou estranho um portão eletrônico aqui em baixo?
O portão parecia uma escotilha, não era possível ver nada do outro lado. Mais uma vez Jonas achou ter ouvido um som atrás deles. Um barulho molhado, como se alguém houvesse pisado em uma poça de água. Ninguém mais pareceu ouvir o som, e ele não quis comentar. Talvez fosse apenas sua imaginação naquele lugar escuro e “apertado”. Andaram por alguns minutos e Thiago começava a imaginar se realmente chegariam a algum lugar, Pois até agora não haviam avistado nenhum outro bueiro.
_Gente. Eu preciso usar o banheiro. Quer dizer... Bem vocês entenderam.
_Não pode esperar mais um pouco Alessandra?
_Eu gostaria Antonio, mais estou com vontade desde meia hora atrás.
_Tudo bem então, façamos o seguinte. Nós ficamos parados aqui e você vai apenas alguns passos para frente, assim você pode ficar à-vontade.
_Acho meio difícil ficar à-vontade em um lugar desses. Mais tudo bem eu não vou me demorar muito.
Antes que ela desse um passo todos ouviram o barulho que Jonas havia ouvido anteriormente. Aquele som de alguém pisando em algo molhado. Todos se entreolharam. O som parecia vago e lento, porem estava chegando perto. Quando a coisa parecia estar em cima deles o som parou. Começaram então a ouvir um pequeno murmúrio um som parecido com o choro de uma criança e um ganido de cachorro. Antonio virou a lanterna lentamente para o local de onde vinha o som. O feixe de luz da lanterna iluminou um par de pés descalços que expelia um liquido viscoso de cor esbranquiçada. Subiu a lanterna iluminando pernas nuas com uma cor amarelada parecendo pus, havia tambem enormes manchas de sangue coagulado. Algumas manchas eram totalmente negras. Subiu por cima da cintura com o feixe e um abdômen contraído para dentro foi revelado. Um dos braços pairava flácido e caído ao lado do corpo daquela criatura que aos poucos era revelada diante dos olhos de todos. O braço parecia ter sido alongado como plástico derretido, as pontas dos dedos da mão da criatura pareciam feitos de granito branco. Pareciam terrivelmente afiados. Eram coisas pontudas, brancas, como se fossem feitas de pedra. O outro braço ao contrário do primeiro parecia ter sido atrofiado e jazia junto ao corpo. As pontas dos dedos dessa mão pareciam tão terríveis quanto os da outra. Por entre os braços da criatura estavam um par de seios pequenos. Aquilo significa que algum dia aquela aparição que estava sob as ruas da cidade já fora uma mulher. Antonio continuou levantando a lanterna lentamente. O feixe iluminou primeiro a boca da coisa, um carreira de dentes alaranjados com as gengivas negras, a boca abria e fechava rápido como se a criatura estivesse batendo os dentes de frio. No lugar do nariz havia uma cratera negra de onde escorria muco. Por fim o pequeno feixe iluminou os olhos. Eram roxos e gigantescos, havia uma espécie de película protetora naqueles olhos. A testa tinha enormes feridas que mostravam a carne por baixo da pele amarelada. Tufos de cabelo pendiam da cabeça da coisa aterradora que estava na frente deles.
Quando a luz atingiu seus olhos a criatura soltou um grito agudo, que parecia partir a cabeça de alguém ao meio. Ao ouvir o grito todos começaram a correr desesperadamente em frente. A criatura disparou ao encontro deles com uma velocidade incrível. Jonas ajudava Sabrina correr o mais rápido que podia atrás deles gritos agudos e parecidos com ganidos de cães eram disparados pelo monstro. O som de molhado era ouvido cada vez que a criatura pisava no chão do esgoto, tambem era possível ouvir as unhas dela raspando no chão. Antonio ia à frente com a lanterna na mão que fazia arcos de um lado para o outro na escuridão dos túneis. Jefferson estava ao lado de Alessandra, quando de repente tropeçou nas próprias pernas e caiu ao chão batendo o rosto. Seus óculos caíram do rosto indo parar em algum lugar do chão. Começou a tatear o chão desesperadamente procurando os óculos.
_Meus óculos, eu não consigo ver nada sem eles.
Jonas parou para ajudá-lo, quando Jefferson deu um grito de pavor. A criatura estava com as mãos envoltas no rosto do rapaz. As unhas de granito arranhavam a sua face pálida de medo. Jonas voltou a correr deixando Jefferson caído ao chão. A coisa cravou as unhas em seu rosto e o virou ficando cara a cara com ele. O monstro cerrou os dentes em torno do nariz de Jefferson o arrancando fora com um jato de sangue. Jefferson contorcia o corpo violentamente sobre o abraço da criatura. Os outros corriam deixando os gritos do rapaz na escuridão. Era possível ouvir o som das mordidas e da carne sendo arrancada. A criatura estava faminta.
_Mas o que diabos era aquilo? – Perguntou Antonio aos demais enquanto corria.
Ninguém respondeu, apenas continuavam correndo. Chegaram então a outra encruzilhada, e mais uma escotilha bloqueava um dos caminhos.
_Vamos por aqui.
Thiago tirou algo da carteira, era um cartão. Passou o cartão no leitor e a enorme porta se abriu. Todos entraram rapidamente e ele fechou a porta. Estavam em uma espécie de depósito. Cheio de caixas de metal, grandes empilhadoras. Thiago abriu a porta de uma caixa que estava na parede e a luz do lugar se acendeu.
_Que lugar é esse Thiago?
_Isso é um armazém. É do instituto. Nós entramos em uma grande furada pessoal.
_O que você quer dizer com isso?
_Bom é melhor eu começar a me explicar. Aquela coisa que nos perseguiu era uma funcionária do instituto. Foi ela quem se “feriu” com o tal de incidente radioativo. Mesmo estando daquele estado eu reconheceria ela e qualquer modo... Nós dois trabalhávamos no projeto, ou melhor, arma que fez aquilo com ela.
_O instituto fazia armas nucleares? – Gritou Antonio para com um tom de raiva na voz.
_Não era somente isso, no começo os estudos eram voltados no ramo da genética. Porem o instituto não estava conseguindo arcar com o dinheiro necessário para os experimentos. Então tivemos que construir protótipos e em seguida armas. Era a única maneira de continuar comas pesquisas, nós obtivemos bons resultados com drogas que estavam inibindo o vírus da AIDS e tambem outros. Não podíamos parar essas pesquisas. Foi com o dinheiro e com a ajuda do governo para camuflar os nossos experimentos que consigo melhoras significativas para a cidade. Os esgotos, por exemplo, foi uma camuflagem para que pudéssemos retirar essas novas invenções do instituto. Alguns dos túneis são usados como esgotos mesmo. Porem nós descemos por um dos errados e estamos dentro da via de “exportação” do instituto. Aquela coisa estava sendo transportada em um caixão de chumbo para ser incinerada, porem algo deve ter saído errado. A radiação não a matou apenas a modificou e a deve ter deixado em uma espécie de hibernação temporária.
Todos olhavam atentamente para Thiago, os rostos eram uma mistura de pavor e raiva crescente.
_Eu soube logo de cara que iria acontecer tudo isso que está acontecendo. Eu estava fugindo descaradamente do instituto. Sabia que mais cedo ou mais tarde alguma informação sobre o caso iria vazar e tudo seria colocado atrás de uma barreira. Como aconteceu lá em cima. E sabem por quê? Foi um verdadeiro milagre somente a Monica ter sido afetada pela radiação, o projeto que estávamos construindo tinha um enorme poder de fogo, se é que me entendem.
_Vocês são uns monstros. É isso que vocês são. Como podem fazer uma coisa dessas? Quantas pessoas não foram mortas por essas coisas? E quantas ainda não irão morrer? E isso nos inclui seu desgraçado – Alessandra foi para cima de Thiago com a mão aberta. As unhas arranharam o rosto dele em três lugares perto do olho direito.
Os outros separaram os dois afastando cada um para um lado. Alessandra irrompeu em lágrimas enquanto era ajudada por Márcio e Antonio. Jonas empurrou Thiago para perto da parede junto com Sabrina. Thiago bateu com força as costas na parede, Jonas segurou pelo colarinho empurrando cada vez mais para a parede. Nunca alguém havia visto ele com um comportamento desses.
_Você ia fugir seu desgraçado? E por que não fugiu? Hein? Por quê?
_Por sua causa cara. Eu me lembrei que você estava trabalhando aqui perto. E uma parte de mim disse que eu não podia ir embora sem você. Cara você sempre foi meu melhor amigo. Eu resolvi esperar você sair do trabalho e irmos embora o mais rápido possível. E então você saiu com a Sabrina, eu segui vocês e esperei até saírem. Mais vocês estavam demorando demais e eu resolvi entrar, conversar um pouco e tentar tirar os dois de lá. Só que não deu certo.
Jonas soltou o colarinho de Thiago. Sentia uma vergonha terrível do que tinha feito.
_E o que nós vamos fazer? – Perguntou Jonas de cabeça baixa.
_A única coisa que nós podemos fazer... É matar aquela coisa. O Antonio tem uma arma e eu tambem tenho uma.
Thiago abaixou-se e levantou à perna da calça, uma pistola repousava em um coldre preso a sua canela. Ele tirou a arma do lugar e a engatilhou.
_E você acha que é tão simples assim? – Questionou Antonio.
_Não sei, ninguém tentou fazer nada na hora nós só corremos. Mais até onde eu sei essa coisa não deve ser a prova de balas.
_Tem mais alguma coisa aqui que nós poderíamos usar como arma?
_Não sei Márcio. Bom o negócio é procurar, vamos dar uma olhada em algumas dessas caixas.
Os quatro começaram a abrir e revirar o conteúdo das caixas. Na grande maioria eram apenas tubos de ensaios e apetrechos de laboratório, porem em uma das caixas eles localizaram várias granadas, Thiago havia dito que não era boa idéia usar as granadas pois elas poderiam muito bem fazer o túnel cair em cima de todos. Jonas resolveu ignorar Thiago e pegou duas granadas e colocou nos bolsos da calça que eram volumosos e poderiam esconder muito bem o formato delas. Márcio achou em uma das caixas uma espécie de furadeira enorme e uma broca afiada de aço. Pegou e broca sentindo que era um peso leve e poderia ser carregada sem maiores problemas. Sabrina estava ao fundo verificando algumas caixas quando Jonas apareceu de súbito ao lado dela dando lhe um enorme susto.
_Ah meu Deus me desculpe.
Ela começou a sorrir envergonhada e pegou na mão dele. Olhou nos olhos de Jonas e disse:
_Tudo bem rapaz só não faça mais isso, por favor...
Ele não respondeu, apenas puxou Sabrina para frente e lhe deu um longo beijo nos lábios. O mesmo foi correspondido por ela. Abraçaram-se forte enquanto se beijavam.
_Eu não queria perder a oportunidade poder fazer isso.
_Se nós sairmos daqui Jonas... Vamos procurar um lugar melhor pra namorar. Está bem?
Os dois riram bastante e deram mais um longo beijo. Sabrina tinha uma lagrima pequena correndo pelo rosto a qual Jonas passou a ponta do dedo indicador por cima e sorriu. Tudo vai ficar bem ele disse em seguida.
_Pessoal acho que não há mais nada que possamos pegar, então chegou à hora de sairmos daqui.
Todos se posicionaram na frente da porta, Thiago passou o cartão pelo leitor. A escotilha abriu e todos foram para fora juntos, formaram uma barreira humana virada para a direção de onde haviam corrido. Antonio e Thiago brandiam os revolveres virados para a escuridão do túnel. Ouviram um grito agudo, e um som de raspagem. A criatura vinha com velocidade e ofegava, o som cada vez chegando mais perto deles. Quando o som estava o mais perto possível deles Antonio levantou mais a arma. Thiago o fez tambem. O raspar parou, a coisa continuava ofegando porem havia parado e o feixe da lanterna não mostrava sua posição. Algo pegajoso caiu sobre o ombro de Thiago e quando o mesmo colocou a mão sobre o liquido descobriu de imediato que era sangue. A coisa caiu por cima dele com os braços em seus ombros o fazendo girar e cair ao chão, antes de cair à pistola que estava em sua mão disparou. Alessandra caiu ao chão rapidamente em seguida, Sabrina correu em sua direção para poder ajudá-la e quando ajoelhou levou as mãos a boca e gritou. O projétil disparado por Thiago acertou Alessandra um pouco acima do lábio do lado esquerdo do rosto, um enorme buraco havia agora no lugar e o cheiro de carne queimada saia do lugar. Uma enorme poça de sangue grosso crescia cada vez mais sob a cabeça dela. Thiago gritava enquanto tentava se livrar do abraço da criatura que ficava cada vez mais forte. A coisa mordeu seu pescoço bem perto do ombro, uma dor enorme brotou do lugar, de onde tambem começou a jorrar sangue. Os gritos começaram a ficar cada vez mais agoniados e cheios de terror. Thiago e a coisa rolavam de um lado para o outro no chão.
_Antonio atira pelo amor de Deus – Gritou Jonas.
_Eu não consigo mirar, vou acabar acertando ele.
Márcio abriu caminho entre os dois ficando com Jonas e a criatura aos seus pés. Levou a broca ao alto e baixou a broca com toda a força na direção da coisa. A broca perfurou o ombro do monstro que soltou um guincho alto e arqueou as costas em agonia. Deu um salto em direção ao teto do túnel e quando o fez soltou Thiago com força no chão. Jonas correu em direção ao amigo que jazia ao chão. Grandes jatos de sangue saiam do ferimento que a criatura abrira em seu pescoço, seu corpo se contorcia em violentas convulsões. Jonas tentou apertar o enorme buraco com as pontas dos dedos, mais mesmo assim o sangue continuava a fluir para fora com violência. Antonio apontava com a lanterna para o teto, disparou duas vezes acertando apenas concreto. Ao chão Jonas soltava o pescoço de Thiago que parava lentamente de se contorcer. A criatura saltava de um lado ao outro sobre eles, pequenos pedaços de reboco caiam de onde ela havia grudado as suas garras. Antonio tentava acompanhar os saltos que a coisa dava por cima deles sem sucesso. A broca que estava grudada as costas da coisa caiu ao lado de Antonio com um tilintar alto. O feixe da lanterna iluminou uma das pernas da criatura, que foi atingida na coxa. A coisa soltou outro guincho indo para a escuridão, o feixe corria de um lado ao outro do teto a sua procura. Sabrina assistia tudo encostada na parede perto do corpo de Alessandra, sua respiração estava ofegante, as mãos cruzadas sobre o peito. Olhava para o alto seguindo o foco de luz, os olhos moviam-se rápido a procura do monstro que habitava a escuridão dos esgotos. Foi quando reparou que a criatura não estava mais lá no alto e sim no meio deles. Gritou apontando para Márcio e quando ele se virou a coisa golpeou seu rosto arrancando o queixo de sua cabeça. Sabrina pode ver os dentes e a língua de Márcio saltarem do rosto do rapaz e caírem no chão do esgoto. Márcio dobrou lentamente os joelhos e caiu de lado aos pés de Antonio, antes de a criatura vir para cima dele Antonio apontou o revolver para o olho esquerdo dela. O mostro parara a investida e o encarava. O pesadelo iria acabar não havia como escapar da mira dele agora. Jonas puxou Sabrina para trás distanciando-se cada vez mais dos dois. Antonio encarou a criatura e puxou o gatilho, porem ao invés de um grande estampido o que saiu do .38 foi apenas um clique seco. As balas haviam acabado. Antonio estremeceu diante do clique seco que veio na segunda vez em que ele apertou o gatilho. O suor frio começou a escorrer pelo canto esquerdo da testa, puxou o gatilho uma terceira vez e outro clique. A criatura irrompeu para cima dele com um grito agudo de fúria derrubando-o no chão do túnel. As garras de granito rasgavam seu rosto em grandes pedaços. Verdadeiras fatias de pele eram arrancadas de seu rosto, seu maxilar agora não passava de uma enorme gruta aberta no meio do rosto. Antonio lutava para sair debaixo da coisa e para não engolir o sangue que era empurrado para sua garganta, estava engasgando-se com o próprio sangue. Jonas lembrou-se das granadas que estavam em seus bolsos, estavam a uma boa distancia porem não era bom arriscar. Puxou Sabrina pelos braços andou mais alguns passos em direção a escuridão imensa dos túneis. Quando achou uma distancia boa o bastante tirou uma das granadas do bolso. Tinha o formato de uma lata de spray, parecida o bastante com um desodorante. Soltou o pino que travava a granada e a arremessou com força na direção da criatura e de Antonio. A granada atravessou o escuro do túnel caindo ao lado do feixe de luz da lanterna. Milagrosamente Antonio ainda estava vivo quando ouviu um som parecido com o de uma lata batendo ao lado de seu rosto, virou a cabeça na direção do som e viu a granada. Antes que ela explodisse, ele fechou os olhos e riu na escuridão sobre a criatura. A granada explodiu em uma bola de fogo com um som ensurdecedor, a pressão jogou Jonas e Sabrina ao chão. As paredes vibravam com força fazendo o eco da explosão passar por todo o túnel. Jonas levantou Sabrina, teriam que sair dali ou seriam soterrados. O túnel rugia e estremecia com violência derrubando grandes pedaços de concreto que caiam do teto. Os dois corriam em meio à escuridão, atrás deles o túnel jogava fumaça e escombros. Jonas agarrou Sabrina pelo braço fazendo com que ela corresse mais rápido. Sentia os músculos das pernas queimando, o ar sufocante e pesado. A cortina de fumaça e concreto já estava alcançando-os quando Jonas sentiu uma espécie de brisa vinda do seu lado direito. O túnel agora se dividia em dois caminhos e por aquele caminho novo Jonas pode ver que diferentemente das outras paredes aquelas não tremiam. A explosão não havia afetado aquela parte do túnel. Mais ainda estava longe o suficiente para serem soterrados. Jonas não conseguiria correr para lá arrastando Sabrina, e ela não estava mais agüentando correr. Já estavam um pouco mais perto do túnel, os escombros agora os atingiam nos braços, costas e alguns na cabeça. Jonas sentiu um pânico tomar conta de seu corpo, ele e Sabrina não conseguiriam sair do túnel juntos. Foi quando movido por um impulso puxou Sabrina pelo braço com força e a empurrou na direção do novo caminho. Ela praticamente voou em direção ao túnel que se bifurcava a direita, a força com que fora jogada a havia pego de surpresa. Sabrina bateu de encontro com a parede do túnel com força, tanta força que um som engasgado de surpresa e dor saiu de sua boca. Havia batido com a parte lateral do corpo fazendo com que o ar dos pulmões saísse com o impacto, em seguida o rosto atingiu a parede fazendo um clarão aparecer diante dos seus olhos. Jonas estremeceu e paralisou-se ao ouvir o som engasgado que Sabrina soltou ao chocar-se com a parede. Viu o corpo dela cair ao chão sem vida com um baque surdo. Quando Jonas acordou do transe em que se encontrava já era tarde demais, correu em direção ao lugar onde Sabrina havia caído e tropeçou em um grande pedaço de concreto. Cambaleou dois passos e caiu de bruços ao chão. O túnel vomitou a sua ultima porção de poeira e pedras cobrindo o seu corpo até a altura da cintura. Aquilo tudo fora poucas horas atrás, mas quando a adrenalina sobe por suas veias durante muito tempo e seu fluxo é quebrado repentinamente as coisas demoram um pouco até ficarem claras e serem lembradas. Jonas se lembrava de tudo agora, a adrenalina havia ido embora e em seu lugar ficara dor. Latente e aguda. Por sorte sentia a dor nas pernas tambem, um sinal de que não estava paralitico ou paraplégico. Mas estava cansado demais para sair dali agora, sentia uma vontade enorme e terrível de dormir. Não, não era uma vontade e sim uma necessidade. Jonas acordou com uma luz intensa e um frio terrível. Abriu os olhos e viu que o túnel havia aberto uma enorme passagem para a rua. Que os escombros haviam formado uma pequena montanha que dava acesso a essa abertura. E viu tambem uma coisa que era muito melhor do que a saída daquele inferno subterrâneo, Sabrina respirava lentamente. Tentou mover as pernas e sair do lugar mais estava preso. Ouviu um pequeno murmúrio e viu Sabrina sentar-se no chão do túnel enquanto massageava a testa onde havia um pequeno corte.
_Você me sacudiu de jeito hein rapaz?
Jonas sorriu ao ver que não havia nada de errado com ela. Sabrina se levantou e admirou o sol que entrava pela abertura feita no túnel. O rosto dela estava com uma cor acinzentada devido à poeira que o desmoronamento do túnel havia levantado. Jonas tambem tinha o rosto e cabelos cheios de poeira, sorriu para ela e disse:
_Será que você poderia me ajudar a sair daqui?
Jonas tentava movimentar as pernas enquanto Sabrina o puxava para fora dos escombros. Ele sentia as pernas pouco a pouco saírem debaixo da montanha de escombros. Teve uma sorte imensa delas não terem sido esmagadas. Jonas saiu dos escombros como uma rolha saindo de uma garrafa, fazendo Sabrina cair ao chão devido à força que estava usando para puxá-lo. Ela se levantou sorrindo, abraçou Jonas e lhe deu um longo beijo nos lábios. Os dois deram as mãos e começaram a subir o pequeno morro de entulhos. Jonas subia frente voltando para ajudar Sabrina sempre que ela precisasse. Quando os dois saíram pela abertura que havia sido feita foram apanhados pelo vento daquela manhã de quarta feira. O céu ainda estava cinzento porem logo mais o sol estaria ardendo e brilhando. Os dois olharam ao redor tentando reconhecer onde estavam. Olharam para trás e puderam ver que estavam a uma enorme distancia do Terminal Bandeira. Haviam conseguido passar pelos bloqueios. A rua estava deserta porem Jonas tinha absoluta certeza de que as pessoas que haviam sido proibidas de abandonarem aquela região ainda estavam lá. Esperando. Olhou nos olhos de Sabrina e viu que o cinza daquela manhã os deixavam mais azuis. Acariciou o rosto dela e deu-lhe outro beijo demorado nos lábios. Após o beijo Sabrina o abraçou forte. O abraço significava unicamente tranqüilidade. O pesadelo havia realmente acabado.
_Para onde é que nós vamos agora? – Perguntou ela descansando o rosto em seu ombro.
_Vamos para casa meu bem.
FIM.