quarta-feira, 25 de agosto de 2010

43 Graus.


Johnny voltava do colégio em silêncio. O sol irradiava um calor intenso e gotas de suor rolavam pelo rosto do rapaz. Seus pensamentos de dividiam em duas coisas: O sol e Amanda. Havia algo errado com o sol nesses três últimos dias e ninguém sabia o que era. A única coisa que sabiam é que a cada dia ficava mais quente. O dia anterior tinha sido quente, mas no dia seguinte ele perderia seu pódio com certeza. Podia até ver nos jornais do dia seguinte o título em letras garrafais: ESTUDOS REVELAM NOVO DIA MAIS QUENTE DO ANO. A data seria vinte e três de Março, o dia quente que estava vivendo no momento.
E Amanda. Uma garota linda da turma dos nerds por que estava apaixonado e descobrira que ela tambem sentia o mesmo. No bolso de trás de sua calça havia um pedaço de papel com o telefone dela. Por que diabos tinham que ser diferentes? Por que o capitão do time de futebol do colégio não poderia namorar uma nerd? Mas por que se importava com isso? Era a pergunta que se fazia. A única coisa que importava naquele colégio era a reputação de cada um. A dele era uma das mais invejadas, mas poderia perder toda ela por causa de Amanda? O que escolheria?
As gotas de suor agora formavam enormes poças sob seus olhos. Com um dos dedos se livrou delas e continuou andando. Em um dos muitos quintais um casal de crianças brincava com uma mangueira molhando um ao outro.
Chegou em casa e foi direto à geladeira. Abriu uma garrafa de refrigerante e encheu um grande copo para si. Tomou tudo em um único gole, mesmo com o calor que estava sentiu-se melhor. Como de costume não havia ninguém em casa, seria mais uma das tardes solitárias que Johnny enfrentava todo dia. E foi esse pensamento que fez ele subir as escadas correndo em direção ao quarto. E sentar-se em sua cama ao lado do telefone.
Retirou o telefone do gancho e o levou a orelha. Olhava do pedaço de papel para o teclado do telefone. Apertou os primeiros números e o dedo indicador travou no ar, quando finalmente o dedo se moveu a linha caiu. Retornou a digitar alguns números, mas o dedo travou novamente. As mãos começaram a tremer fazendo com que ele desistisse e colocasse o telefone de volta ao gancho. Deitou se na cama e ficou fitando o pequeno pedaço rasgado de uma folha de caderno e a caligrafia escrita em tinta rosa. Como que hipnotizado adormeceu. E sonhou.
Em seu sonho as ruas tinham um tom alaranjado. Fechou as mãos em concha e as levou aos olhos, mesmo ao enorme calor sentiu um arrepio gelado descer a espinha ao contemplar o sol. O sol era agora uma enorme bola laranja, algo incandescente se desprendia como tentáculos e se desfaziam no ar. A bola de fogo parecia crescer cada vez mais no céu e suor escorria de seu rosto até cair pela ponta do queixo.
Começou a subir uma rua, algo lhe dizia que restava pouco tempo. Os gramados na frente de todas as casas tinham uma cor amarelada e pareciam terrivelmente secos. Tão secos que se quebrariam com um único toque ou assopro que recebessem. As folhas de todas as árvores exibiam a mesma coloração. Era como se toda a cor verde fosse diluída em sépia.
Alguns passos à sua frente viu a manchete de um tablóide: O APOCALIPSE CHEGOU. A data era vinte e cinco de março. Largou o jornal e continuou subindo a rua. Continuou subindo a rua, na sua cabeça um som de correntes sendo balançadas o guiava rua acima. Passou por um grupo de pessoas, homens trajando paletós e mulheres em vestidos cantavam e balançavam bíblias no ar.
O som das correntes ficava mais próximo a cada passo. Passou por um homem sentado a beira da calçada. Seus olhos pareciam cansados e não conseguia manter-se ereto. Johnny sentiu um forte odor de álcool quando o homem falou.
– É o fim... Não adianta cantar ou se arrepender agora... Em breve todos virarão cinzas. Falta pouco agora... Muito pouco...
Chegou a um parque e o som das correntes cessou. O som deveria ser de um balanço onde havia uma garota sentada. Caminhou em direção a ela e a reconheceu. Seus cabelos negros caídos sobre os ombros. Através dos óculos os olhos verdes e lacrimejantes dela fitavam o tronco de uma árvore próxima. Ele seguiu o olhar e viu um coração desenhado na madeira, dentro dele algum casal havia escrito as suas iniciais. Por um segundo imaginou se Amanda não via no coração as iniciais “J+A”. Voltou-se para ela e viu, horrorizado que a pele do rosto dela começara a borbulhar.
Os longos cabelos começaram a encurtar e tomar um tom castanho até entrarem em combustão e se inflamarem. A pele do rosto borbulhava loucamente e se desprendia em fagulhas caindo ao chão, suas mãos foram envoltas em chamas que derreteram suas unhas. A árvore fez um estalo alto jogando no ar várias lascas de madeira em chamas. A copa da árvore já era uma tocha feita de folhas que crepitavam. Amanda soltou um grito estridente que aos poucos começou a parecer um gargarejo. O interior de sua garganta tambem estava derretendo, os lábios dela caíram ao chão como plástico derretido. O corpo dela pendeu para frente e foi abraçado pela chamas que subiam do gramado infernal. O pequeno balanço começou a entortar sob as barras de aço e caiu ao chão. A árvore agora não passava de um pequeno toco e do chão levantavam-se cinzas que tomaram conta do ar.
Johnny olhou para o céu e viu aquela bola incandescente fervendo, ouvia o chiado do asfalto queimando. Abriu a mão e viu um pedaço de papel com letra rosa começar a queimar.
Acordou assustado em sua cama em uma poça de suor. Olhou para a janela e o sol ainda brilhava forte no céu. O relógio anunciava 17h30min. Passou as mãos no rosto tentando se livrar do suor que escorria e sentiu algo em sua mão esquerda. Era o pedaço de papel escrito com tinta rosa, tinha as pontas chamuscadas, mas ainda era possível ler os números escritos.
Deu um salto da cama em direção ao telefone, pegou o aparelho e digitou o número. Aquilo que acabara de vivenciar não era um mero sonho. Não quando o sol ainda brilhava fortemente às 17h32min e no dia anterior nesse mesmo horário ele já desaparecia no horizonte. Do outro lado da linha uma voz feminina atendeu. Uma voz conhecida.
– Amanda? Sim é Johnny... Estou bem, só liguei para... – Respirou fundo e terminou a frase de uma vez – Para saber se você não quer passar o dia de amanhã junto comigo?

Um comentário:

  1. Caraaa!Muitoo fooda!
    adoro a forma q como vc conta esses casos de amor!hahahahahahaha
    Parabéns de novoo cara!
    Bjs!

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